Ex-líder da banda inglesa se apresenta nesta quinta com uma reedição do álbum 'The Wall' e homenageia o brasileiro Jean Charles de Menezes
Roger Waters, 68 anos, prefere falar sério. Em pouco mais de meia hora de entrevista coletiva, concedida na tarde desta quarta-feira, no hotel Fasano, no Rio de Janeiro, o ex-líder de uma das bandas mais influentes da história do rock não deu atenção a brincadeiras. Foi objetivo em suas respostas e buscou convergir os assuntos em torno de questões de política internacional.
"Há um muro entre nós, o público em geral, e o que acontece nos corredores do poder", afirmou. Prestes a erguer no Rio o muro construído com o Pink Floyd em 1979, Waters descartou uma reunion com os ex-integrantes e disse acreditar que David Gilmour, guitarrista e responsável por boa parte dos vocais da banda, está aposentado: "Não acho que ele tenha qualquer interesse nisso (em tocar juntos novamente). E eu não tenho interesse nisso".
'Mura da desinformação' - Engajado em questões como a luta da Palestina por um estado independente, Waters considera que o maior problema do mundo atual é a falta de transparência no âmbito do poder. "O muro da desinformação é provavelmente a força mais perturbadora que eu sugeriria", diz. Segundo ele, as pessoas não são informadas sobre as questões que envolvem as principais decisões.
"Precisamos escapar da fantasia de que se você é o (Barack) Obama, você vai fazer tudo direito. Aquele cara jovem, negro, que aparece e passa por todo aquele processo em Illinois e chega ao senado e à presidência é um homem de proeminência e de um intelecto enorme. Você não poderia imaginar algo melhor. Mas uma vez que você chega à Casa Branca, alguém te puxa e diz: venha cá, filho, é assim que as coisas realmente funcionam. Esqueça tudo. Isso é o que você vai fazer agora", opina Waters.
Após se posicionar a favor da reivindicação das Ilhas Malvinas pela Argentina, em seu show em Buenos Aires, e de ter feito homenagem ao brasileiro Jean Charles de Menezes, morto por policiais no metrô de Londres em 2005, durante o show em Porto Alegre, no último domingo, o compositor afirmou que não está trazendo nada de especial sobre as problemáticas locais do Brasil. Ao contrário, elogiou as mudanças que tem percebido nas viagens que faz pela América do Sul: "Vejo as mudanças acontecendo. Particularmente no Brasil. O Brasil é muito rico. Vocês devem se organizar e aproveitar o fato de que isso é verdade e dividir isso de forma muito mais justa do que vocês jamais fizeram", afirmou.
Jean Charles - O músico não considera a homenagem que faz a Jean Charles o foco do show. Mas ele fez questão de colocar a imagem do brasileiro entre as diversas pessoas relembradas, que Waters considera terem morrido injustamente: "Obviamente sendo inglês e vendo uma manifestação do estado terrorista onde eu sou cidadão, mesmo que não more mais lá, senti legítimo de levantar a questão. Ninguém foi culpado por nada. Ninguém foi responsibilizado pelo fato de que esse cara inocente foi caçado no metrô. Atiraram na cabeça dele oito vezes. Eles erraram três tiros. Mas acertaram oito. Como sabemos, ele não tinha feito nada. Eles vieram com essa história de que o Jean estava correndo e depois se descobriu que nada disso aconteceu", disse.
Fonte: Exame.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário